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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sob os Pés da Santa.

Céu azul e ensolarado, sem uma nuvem sequer. O ônibus dá a partida, começa o “pinga-pinga” e pela janela vejo a rodoviária afastando-se, a capital potiguar ficando cada vez menor...

Comecei, então, a pensar em como seria o final de semana: passar o natal distante da família, época de reflexão, espiritualidade e, sobretudo, muita comida. Tinha que admitir: estava ansioso.

Meu itinerário partiu de Natal para a terra onde eu vivi anos e onde conheci algumas das pessoas mais interessantes que já passaram pela minha vida: Santa Cruz.

Lá, bandas de forró antigas tocariam músicas marcantes de nossos tempos mais pueris. Sim, isso também foi um prelúdio para a nostalgia que me aguardava.

Fiquei quase o tempo todo próximo de uns seis ou sete colegas, verdadeiros amigos, que o tempo e a distancia não separam. Reunidos na pracinha central da cidade, lugar para onde toda a juventude provinciana inevitavelmente converge, parecíamos um bando de adolescentes barulhentos, usando gorrinhos de papai-noel, e não jovens adultos no limiar da profissionalização.

Estampada no rosto de cada um havia uma alegria quase infantil, rindo das mesmas piadas antigas que contávamos nos tempos de colégio. Havia ainda colegas que eu não encontrara há anos, separados pelos diferentes caminhos que a vida nos leva, cheios de histórias para compartilhar e atualizar. As recordações de quem se lembra de tudo nos mínimos detalhes vieram à tona: resenhas, apelidos, intrigas, amores, “ficantes”...

Percebi que o tempo nos tornou bastante gentis. As brigas que outrora existiam, como em qualquer outra escola, cederam lugar à grande camaradagem, carregada de certo orgulho de ter amigos de tão longa data que, quando se encontram, conversam como se nunca houvessem se afastado.

Em cada semblante foi possível vislumbrar que o tempo agiu de forma generosa e diferente para cada um: para alguns, não parecia ter passado, mantendo o ar jovial; outros mantiveram o espírito de molecagem apesar dos quilinhos a mais e dos fios de cabelos a menos; outros ainda conservaram o jeito comedido e um pouco sério, dentre os quais me incluo, e os antes mais calados mostraram que o tempo lhes presenteou com a maturidade que outrora os hormônios à flor da pele teimavam em retirar.

Eu poderia me estender, destacando pessoas e episódios das minhas mais profundas recordações, os quais eu também reencontrei. O mais importante, no entanto, é que vivi momentos maravilhosos, abençoados por Santa Rita, daqueles em que a gente sai alegre, sentindo-se querido, fortalecido. Voltei para casa não sem antes lançar um olhar de “até logo” à estátua no alto da colina, com a promessa de reencontrar, quem sabe ainda nessas férias, esses amigos de tantos anos que, uma vez reunidos, sabem fazer o maior barulho!

Gonzaguinha


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