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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Capítulo 2 - A separação Iminente.

"Até que o sol não brilhe, acendamos uma vela na escuridão." Confúcio

Estávamos caídos olhando para cima. O céu era escuro e chovia bastante. Fiquei tranquilo ao vê-la do meu lado, olhando para cima também. Molhados até os ossos naquela grama rala e chão lamoso, pensei como tudo aconteceu tão rápido. Lembro-me que após conseguirmos a minha lembrança no alto da Montanha Mágica Imaginativa fomos surpreendidos por milhares de Zé Gotinhas Azuis Derrubados.

Agora, estamos nesse mundo escuro e chuvoso e eu não tenho a menor idéia de onde viemos parar após Bulba abrir uma porta com sua Chave Mágica. Pelo semblante que a Criadora de Mundos trazia, conclui: assim, como eu, era sua primeira passagem por um portal dimensional, ou algo muito parecido com um. Quem iria imaginar a existência de uma Porta Surpreendentemente Conectadora de Mundos bem ali na nossa fuga? É certo que fugíamos desesperadamente dos nossos perseguidores azuis, e não sabíamos qual direção seguir. Apenas vimos na nossa frente uma porta enorme, e como se fosse para ser assim, Bulba guiou a chave até a fechadura abrindo-a. De imediato pensei que finalmente havíamos encontrado o mundo das fadas que ela tanto procurava!

Nunca estive tão enganado.

A chuva continuava a nos molhar, o cabelo de Bulba escorria pelo seu rosto. Seu ar de preocupação me preocupava também. Talvez fosse difícil para ela estar num mundo que não foi criado pelas suas próprias mãos. Apesar de estarmos perdidos, deixamos o medo nos guiar para longe dali, daquela chuva, daquele lugar.

Já calmos com nossa situação de perdidos à deriva, decidimos procurar por um local seco. O que de fato era impossível no momento, entretanto, apesar da nossa situação, eu adquiria uma aconchegante confiança, pois além de estar em companhia da Criadora de Mundos, somente ela possuía a chave para nos levar de volta para nosso lar. Sou sincero, era apenas isso que me confortava um pouco. De nós dois, somente ela tinha capacidade de girar uma Chave Mágica numa Porta Mágica. É triste, mas uma pessoa sem Coração como eu, está destinado a ficar trancado em mundo só.

Foi quando eu direcionei meu olhar para dizer algo a ela, que me surpreendi com o seu olhar sério, e ao mesmo tempo surpreso, olhando para algo, bem longe dali.

- O que foi? Falei.

- Nada... Devo estar vendo coisas. Tive a ligeira impressão de ter visto borboletas. Deixa para lá... E agora? O que faremos?! Ela gritou toda encharcada, em desespero.

- Você que maneja a chave! Leve a gente de volta para casa! Gritei mais desesperado ainda.

- Marmo, não sei como nos levar de volta, nem sei os detalhes de como isso aconteceu... Eu apenas vi a porta e coloquei a chave na fechadura e girei... Droga! Pare de gritar comigo!

- Como é? Você não sabe manejar uma simples chave?


- Estás vendo alguma porta por aqui? Quando avistares, avisa-me para assim eu girá-la bem na sua fuça, babaca. Não é tão simples assim, como pensas Marmo. Quando se está de posse com uma Chave Mágica, qualquer coisa pode acontecer. Uma porta se transforma num portal, Zé gotinhas aparecem do nada, tudo depende da situação e do estado de espírito do possuidor da chave.




- Sua idiota.


- Idiota és tu, imbecil. Se não fosse por mim, os Zé Gotinhas Azuis Derrubados teriam conseguido nos pegar.


- Não sei, não sei. A culpa é sua! Você e seus sonhos idiotas! Olhe aonde viemos parar? Com certeza esse não é o mundo das fadas! E nem muito menos dos Fuscas Vermelhos!


- Para! Não achas que temos problemas demais nesse momento?!


- Olha esse céu! Essa chuva! Não tem como piorar!


- Seu idiota! Te od...

- Shii...


- Oi?


- Não percebeu? Olhe com atenção, ali ó, perto daquelas árvores.

- Não estou vendo...


- Bem ali!

- Ah, não... Não... Até aqui!

- Temos de ter cuidado a partir de agora, Zé Gotinhas Azuis Derrubados ficam mais fortes quando estão na chuva.


- Hunrrum. 



Pois é, nem tudo são Montanhas Imaginativas, Fuscas e Fadinhas... Quando eu e a Criadora de Mundos brigamos, as coisas ficam muito brigadas. Ela é muito sabichona, se acha a pessoa mais linda do mundo. Sei que o corpinho de abajur dela realmente faz merecer tal conduta, porém, não precisa ficar pensado que é coisa mais fofa e meiga de todo universo. Gosto da meiguice dela, adoro o jeito como ela põe capacetes vermelhos em busca dos seus amores, mas na hora de brigar e ter razão sai da frente!


Contudo, mesmo sendo tão brava, e cheia de "guéri- guéri", fico paralisado quando ela está de cabelo preso e com as franjinhas caídas de lado, quando a vejo assim, parece até que ela está conversando com fadas. Outra coisa nela que me chama atenção é o seu modo particular de falar. Será mesmo necessário usar tanto a segunda pessoa do singular? “Tu és um idiota!”, “Vês? Sempre tenho razão.”


É... Ela sempre tem razão...


Já passamos por muitos momentos bons, já passamos por momentos ruins. Mas sempre lembramos da nossa promessa de seguir aquele velho pensamento "todo mundo tem que está onde é amado". Mesmo sabendo que isso não seja necessariamente motivo para nos encher de alegria o tempo inteiro.

Ao lembrar-se disso, eu deveria ter dito a ela que agi como um idiota ao entrar nesse mundo estranho e chuvoso. Afinal, a importância dela para mim, é indescritível. Detesto quando brigamos, mas acontece às vezes. Porém, mesmo brigados, nos unimos para combater o bom combate e ela criar novos mundos. Ainda bem... Pois é somente com Bulba que posso encontrar meu coração e meu presente dificílimo.

Mas, apesar de querer contar tudo isso para ela, não tínhamos tempo para conversa, posto que, pela lógica, se havia um Zé Gotinha Azul Derrubado por perto, era porque havia milhares deles por vir. Bacana: longe de casa, na chuva, com a iminência de ser perseguido por seres azuis com cabeça em forma de gotas numa densa floresta de um mundo desconhecido, e brigado com a Criadora de Mundos. Que situação frustrante.

- Olhas lá longe, Marmo! Disse ela sorrindo.

- O quê? Fiquei preocupado.

- Marmo, o sol está nascendo! Agora tenho certeza do que eu tinha visto! São borboletas sim! Borboletas em moinhos de ventos! Que lindo! Mas parece que elas estão presas...

- Bulba... Só estou vendo chuva e noite. Apesar de a chuva ter passado, o céu continua nublado e escuro. 

 
Nunca tinha visto os olhos de Bulba tão sérios e preocupados olhando para mim. Mas tarde, eu descobriria por que.

- Vens, segue-me.

- Espera Bulba! Nessa direção está muito escuro.

- Quanto mais escura a noite estiver é por que mais próximo de amanhecer está. 


Honestamente, fiquei pasmo com o que ela disse. Talvez por criar mundos e lidar com imprevisto o tempo todo, e saber dos riscos e medos da criação, ela tenha se adaptado mais rápido do que eu imaginara aquele mundo.

- Chegamos! São lindas... Não achas?

- Não consigo ver. E porque você está tão seca?

- Marmo, já está de dia, olha esse céu azul claro! E esses moinhos de vento borboletantes faz com que sequemos mais rápido.

- Eu ainda estou encharcado da chuva! E na minha frente só há escuridão... O que está acontecendo...?

- Marmo, não me assuste! Estou ficando com vontade de chorar...


- Quem está me assustando é você, que está enxergando beleza onde não tem! 

E foi então que ele apareceu do nada atrás de mim e da Criadora de Mundos.


Prentice Geovanni




6 comentários:

  1. Talvez Marmo crie muros sem porta, por isso a Criadora de Mundos não é capaz de abrir. O que apareceu atraz deleeeees?????!!

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  2. Aninha no próximo capítulo (se houver) eu digo. E Tárik, vai ler a Capricho.¬¬

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  3. e eu acho q sei quem vai aparecer \o/
    Como ja tinha dito a prentice antes, não consigo de parar de pensar em douglas adams ao ler essa historia.
    Massa demais =]

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  4. Ah...eu n gostei da briga deles...bateu uma tensão aqui..
    kkkk
    mas adorei a frase : "Quanto mais escura a noite estiver é por que mais próximo de amanhecer estar. "

    adorei mesmo...kkk

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