Capítulo 3 - Ar Risonho.

"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo." José Saramago

Mesmo com a alegria súbita de ver Borboletas em Moinhos de ventos, quando aquele Cara apareceu atrás de nós dois, ela ficou triste. É, eu a achei triste, e para a Criadora de Mundos ficar triste, algo muito triste aconteceu, ou estava para acontecer. Por isso, também caí em tristeza. Tanto por não conseguir ver os Moinhos de Borboletas, descritos por minha amiga Criadora, como também, por só ver escuridão e chuva. Devido a não entender essas circunstâncias, me senti sozinho dentro de um abismo profundo. Além do mais, aquela sensação de que algo ruim estava para acontecer era perturbadora.

Ao vê-lo, comecei a me questionar: é tão estranho como o tempo passa rápido quando estamos com aquela pessoa querida do nosso lado. Muitas vezes nem damos importância a isso, pois temos a mania de pensar que tudo que é lindo dura para sempre em nossa vida, memória e sonhos. É uma pena, mas se tratando de momentos bons serem eternos, a simplicidade foi dar uma volta no quarteirão e ainda não chegou. É fato, é concreto: num instante, estamos vivendo aventuras emocionantes com quem gostamos; num piscar de olhos, sem mais nem menos, poderemos estar sozinhos.
E eu não queria ficar sozinho, Bulba é a única capaz de me levar pelos outros mundos. Só ela possui a Chave Mágica capaz de abrir uma Porta Mágica. E, além do mais, não tenho a menor intenção de sair do lado dela.

Mas, infelizmente, as coisas não acontecem à nossa maneira.

Percebi, naquela hora que Ele apareceu, e olhando para aquela escuridão chuvosa crescente sobre mim, que se não soubermos aproveitar os momentos ao lado de alguém considerado especial, certamente, algum dia, iremos nos arrepender amargamente. Apesar de saber disso, e ter aproveitado bastante a minha pessoa especial, não consegui mudar meu destino. E, infelizmente, esse dia amargo chegou para mim. Aconteceu tudo muito rápido. Ele simplesmente apareceu atrás de nós, e... tudo mudou.

"Bulba, desculpe por te fazer ficar com vontade de chorar, mas agora parece que temos visitas."

"É. Depois conversamos."

Estávamos sérios, com medo, confusos e aquele cara ainda chegou para nós dois com um sorriso debochado no rosto. Realmente é f...

"Bom dia ensolarado Bulba, boa chuva com escuridão, Marmo. Tenho o enorme prazer de estar aqui diante de tais nobres figuras: uma Criadora de Mundos e um Garoto sem Coração."

Evidentemente, fiquei com o pé atrás. Como esse ser, todo negro, sabia dos nossos nomes? E essa intimidade? Que eu saiba, eu e a Criadora de Mundos, não tínhamos nenhum amigo de outro lugar além-mundo.



"Porque esses rostos de assombro? Ora, Estou aqui para ajudá-los! E aí Bulba, esse Mundo das Borboletas não é realmente lindo? Dizem que essas Borboletas presas nesses moinhos, se soltas, são capazes de viajar para qualquer local do universo. Porém, há um Guerreiro impedindo que alguém faça tal desatino. De certo modo, ele tem razão, afinal, não é para qualquer um viajar pelos Mundos, não é? Marmo, seu danado, quanto tempo, tudo bem? Será que suportarás toda essa escuridão na tua frente? "

Ao escutar aquilo percebi que Ele entendia bem da nossa situação. E, entendia bem mais da nossa intimidade. Certamente, eu deveria ter prestado mais atenção nele, evitando talvez toda aquela catástrofe...

"Abre o jogo Cara, o que está acontecendo comigo e com Bulba? Porque essas diferenças de realidade? Até agora enxergávamos as mesmas coisas, porque isso agora?"

"Se sabes de algo poderias nos dizer? Sim, realmente é um Mundo lindo."

Aquela figura negra começou a rir de Bulba... E por causa disso me senti com raiva. Mas, Ele percebendo isso ficou sereno e risonho, e ainda, com um jeito de deboche discursou sobre tudo o que estávamos passando... Até hoje as palavras ditas por aquele sanguinolento me assombram. Elas cortaram meu espírito em mil pedaços.

“Marmo, meu querido. Vamos direto aos fatos: você é um fraco. Isso mesmo, um fraco! Por isso, jamais poderás acompanhar um garota tão especial como a Criadora de Mundos.




Primeiramente, não tens um coração, e por causa disso, os dois nesse momento estão passando o que estão passando. Deixe-me explicar melhor: os dois, ela e você, podem estar juntos lado a lado, mas a realidade que ambos se encontram é Extremamente diferente. Enquanto Bulba ver o nascer do sol, o senhor, caro Marmo, só consegue ver escuridão. Ela ver borboletas, você só enxerga chuva. Ela já está seca, você todo molhando. Não dá para perceber as antíteses? Elas, agora, estão claras diante dos seus olhos, minha admirável Criado de Mundos e Marmo? Por isso, vocês dois não estavam entendendo nada!

Agora eu pergunto: Como algo tão simples, uma antítese, se tornou em algo tão complexo, como uma divisão de realidades? Bem vindos ao Confins do Universo! Ele é isso, essa coisa, que não se entende. E, se tentamos entendê-lo, correremos sérios problemas. Jamais brinquemos com esse universo, repleto de Portas, Zé Gotinhas Azuis Derrubados e Chaves Mágicas.

Dito isso. Convém-me fazer outra pergunta: Vocês, ao atravessarem aquela Porta, no alto da Montanha Imaginativa, e chegarem nesse mundo de Borboletas, não perceberam suas atitudes, ou como se trataram, um com o outro?

Bulba, minha Criadora de Mundos, isso é o que acontece quando se acompanha um Garoto que não possui um Coração. Ele só trará problema, afinal, quem não tem coração, não se é forte, não se é amável, não se é querido. E, principalmente, não se sabe amar!”

Nesse exato momento eu peguei um pedaço de madeira no chão e sai correndo na direção daquele Cara para dá-lhe uma bela de uma surra! Mas, ele tirou uma chave de dentro de sua roupa, e nessa hora, nesse momento, que ele mostrou essa maldita chave apareceu uma porta enorme diante da Criadora e de mim! Ele com o ar risonho de sempre, só fez apontar para a porta para que esta se abrisse. Realmente fiquei pasmo, porém, Bulba só ficava calada e com um olhar vago diante de tudo que estava acontecendo. Fomos puxados para dentro da porta.

Coloquei minha mão sobre o lado esquerdo do meu peito. E com as mãos cheias de sangue percebi uma coisa: Eu estava sangrando muito.

Prentice Geovanni