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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Doravante e Aventura.

A chuva era constante na vida de Doravante. Por onde ela andasse essa bendita chuva a perseguia. O porquê disso? Nem ela sabia. Logo, se a mesma não sabia o motivo dessa perseguição, não é da nossa conta, pelo menos por enquanto, procurarmos saber. Apenas aceitemos isso e nos adiantemos. Dito isso, continuemos. 

Doravante só sabia de uma coisa: da pressa, de ter pressa. E, como toda pessoa apressada, essa sutil garota tinha um enorme medo. De quê? Ora, de perder a pressa de ser feliz, de ficar lenta para alcançar seus objetivos, de que essa chuva não passasse rapidamente, de que Aventura não chegasse logo ao seu encontro. (Ela, na verdade, tinha medo de não ter pressa. Sua fundamental característica.) 

Pôxa! O Trident de Hortelã que ela escolhera para mascar já estava ficando sem gosto e nada de Aventura dar sinal de vida. Ficar sozinha num lugar estranho, sem ninguém que lhe fizesse companhia era chato.

- Muitochato.MeuDeus!Aventuraestádemorandodemais... Eledissequeseeuprecisassedelesóbastavachamá-lobemaltoegritar... 

Aventura! Nome cobiçado pelos corajosos e desafiadores dos mais assombrosos medos! Clichê de histórias inimagináveis, glórias para quem escapa de uma sem perder nada no caminho! Esse é o nosso famoso Aventura! Esse era o cara por quem nossa apressadinha estava esperando. Era por ele, e somente com ele, que ela contava naquele momento. E ele, meus caros, era um...

Sujeito apaixonado por Doravante. Na verdade, o coitado não sabia o motivo de gostar tanto dela, mas, sei lá, algo nela chamava sua aventuresca atenção. Talvez, apenas, gostasse do jeito apressado dela, de seu sorriso gostoso, ou ainda, do seu cabelo amarrado para trás. Ou, quem sabe, o que ele tivesse de aventureiro, ela teria de apressada, e isso, de alguma maneira serviria para nosso Aventura como uma combinação perfeita de amor. 

Apesar de ele achar tudo isso dela, deixemos algo bastante claro: azar o dele de ser apaixonado por ela. A vida não é um conto de fadas romântico repleto de sorrisos e felicidades. Aquela cena em que enxergamos casais quando estão a esperar um pelo outro na chuva está mais que ultrapassada, o beijo que esperamos de nossos amados ao chegarmos molhados de uma chuva não passa de uma mera ilusão na cabeça dos aspirantes ao amar. Infelizmente, ou felizmente (não sejamos pessimistas), Aventura era um desses iludidos.

Ora, digam-me, quem em sã consciência sairia em busca de uma garota que sempre traz a chuva em seus percalços? Ela é uma garota legal? Certamente que sim. Tem a voz massa? Todo tempo. Preocupa-se contigo? De certo modo sim. É bonita? Tem sua beleza. Amas ela? Para se ir em busca de alguém, é necessário amar? Se for em busca do coração dessa pessoa é claro que sim. Afinal, não podemos simplesmente fazer de nossas vontades o amor dos outros. E por que não? Seria de um egoísmo extremo e sem perdão fazer isso: colocar suas escolhas (de amor) à frente de uma pessoa sem ao menos esta saber se está apta a participar de sua vida. É loucura. É um capricho. É humano. É anti-romântico e tão exageradamente egoísta que o gostar finda em relatividade, meu caros.

- Ô demora...nãogostodeesperar.Deficarsozinha. Deficarcomfrio...Aíííqueventofrio. 

- Essa chuva está ficando forte, devo estar próximo de Doravante. Ela disse que me esperaria. Ainda bem. Mesmo com pressa, mesmo com um Trident de Hortelã já no fim de acabar o sabor, ela esperará por mim.

E ela foi embora levando a chuva consigo.
Prentice Geovanni

3 comentários:

  1. "Para se ir em busca de alguém é necessário amar? Se for em buscar do coração dessa pessoa é claro que sim. Afinal, não podemos simplesmente fazer de nossas vontades o amor dos outros."
    Ô peia, né não ;P
    Seus textos, como sempre e que assim seja, são emocionantes demais. Nem sempre reconfortantes, mas desafiadores e reflexivos.

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  2. carambaaa.
    sou fã dos seus textos, de como vc consegue dizer muito,com pouco...de falar com palavras faceis de coisas dificeis...e de coisas faceis.


    sou fã do homem aranhaaa!

    e mary jane fica com ele no final
    =x

    bjooo

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  3. "não podemos simplesmente fazer de nossas vontades o amor dos outros". às vezes, é até inevitável. não é capricho, é involuntário. perceber isso dá a oportunidade para auto correção, mas não se pode impedir que esse sentimento surja.

    somos muito mais vítimas dos sentimentos do que seus autores.

    o que não nos isenta de responsabilidades por suas consequências.

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