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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sobre Um Pouco de Babosas.


Era uma vez uma babosa jogada no monte de lixo, perto de um cemitério, com as raízes para cima. Era feia. Ou melhor, estava feia. Talvez já estivesse morta e sem esperanças para viver de novo seus tempos de babosa verde e cheia de vida. Quem fez aquilo: arranca-la de onde estava plantada e jogá-la num lixão, ninguém jamais saberá. Porém, ninguém também saberá como e qual o porquê de uma pessoa, ao passar por ali, pegar aquela babosa, toda feia, morrendo no canteiro de um cemitério, em volta do lixo e trazê-la consigo, para sua casa. Provalvemente, houve alguma transferência de sentimentos humanos para uma simples e maltrada planta, ora, essa pessoa poderia ter sido tocada por um sentimento de abandono ao ver aquela pequena babosa do jeito que estava, não acham?

Vendo-a naquele estado, pego-a por uma de suas ramificações, colocou um pouco de fé em pensar que a moribunda verde poderia viver, e foi em frente para sua casa. Carregando a miserável de um fim triste e tenebroso. Chegando lá, procurou um vaso vagabundo, um pouco de terra que havia sobrado de algum lugar, um tanto de água da torneira na pia quebrada e pronto. Estava feito o jarro da babosa. Estava feita a sua casa. Estava feita sua nova moradia.

E foi com o passar de alguns dias que a babosa começou a perceber que estava viva novamente. Raí­zes bem estabelecidas, água e sol para sua fotossí­ntese, parece que realmente outra chance lhe foi dada. Como deveria estar agradecida por ter sido salva, como poderia retribuir o favor de ter sido plantada outra vez? E mais, como poderia pensar uma coisa dessas sendo uma simples sobrevivente plantinha?

E foi quando estava pensando justamente nisso que ela foi vista por aquele garoto. Ele olhou para ela de cima, mostrando aquele ar de superiodade e se perguntando "quem colocou essa babosa na minha porta?". De início a pobrezinha ficou com medo de não ser aceita, afinal, era nova naquele lugar e não queria ser interpretada como uma visitante inesperada. Preferia ser vista como nova inquilina, certamente não queria confusão. Afinal, sabia que outras plantas já estavam por ali há bem mais tempo que ela. E chegar de supetão assim, não fazia seu estilo. Porém, apesar dela não ter culpa de ter sido colocada ali, sabia que aquele seria seu novo lar: em frente ao apê daquele garoto que a olhou de um modo indiferente. Surpreso, todavia, indiferente.

Com o passar do tempo a babosa começou a ver como era a vida do seu vizinho. Tinha dia que ele chegava feliz, tinha dia que ele chegava triste, tinha dia que ele não chegava. Reciprocamente, ele também começou a ver a sua vida: sempre paradona, esperando por um pouco de água, que nunca vinha da parte dele. Era uma vida monótona, mas era melhor essa vida do que acabar muchando num lixo, ao lado de um cemitério. Pelo menos existia um garoto para tirar um pouco de sua casmurrice de planta. Como será que ele chegará hoje? Acompanhado? Sozinho? Com raiva? Será que o dia dele foi bom? Hum... como ele estar feliz em falar com essa pessoa, quem será?

Foram três anos de convivência. Nenhuma troca de palavras. Ela, a babosa, até entendia. Não queria que seu vizinho fosse chamado de "o maluco que falava com plantas". Não, isso não. Há certas coisas e momentos que é melhor mantermos distância e torcer para que tudo fique bem. Ele não tem culpa por não saber o quanto ele era especial para ela. A vida tem disso: lutas que devem ser lutadas e lutas que se resolvem por si só. Essa era uma delas. Não adianta aceitar, também não adianta negar. O que importa é o tempo que passaram juntos, mesmo que o lugar não fosse dos melhores.

No mais, foi num novembro qualquer que ele disse suas primeiras palavras para ela: Adeus e obrigado pela companhia. Se cuide. Eu te percebi assim que te vi, apesar disso não muda o fato que estou indo embora. Pelo menos servirá de consolo que você ajudou alguém. Obrigado também por me salvar.


Prentice Geovanni

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