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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Capítulo 5 - Lembra de Mim, Tá?

"Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos."
José Saramago


- É... onde estou mesmo? Ai, ai... como eu sobrevivi daquele tiro? E daquela queda? Será que estou viva? MARMO! Marmo...

- Oi.

- Como vou te encontrar agora Cabeção...

- Eu disse: Oi!

- Talvez se eu usar a minha Chave e voltar para encontrá-lo no Confins do Universo...

- Alôôô..

- Mas, isso seria impossível... Nem usar a minha Chave eu sei...

- Bulba!!! Quer prestar atenção em mim!

E eu prestei atenção. Tudo bem, eu sei que sou estabanada, e as vezes viajo sem querer criando meus mundos, porém, não é toda vida que um guaxanim armado com uma katana sabe meu nome. Além do mais, eu ainda estava aérea pelo o que aconteceu comigo e meu amigo Marmo... e, depois de tudo aquilo, eu pensei que estivesse morta. Ora, um tiro no coração é de matar qualquer um. Mas, pelo visto, essa regra não se aplica a mim. Menos mal, pois uma Criadora de Mundos não morre tão fácilmente. Mas, sinceramente eu não sei como escapei daquela queda, daquele tiro, daquele cara... Tenho muito medo dele. Quero distância daquela coisa...

- Bem vinda à sua Parada.

- Que parada?

- Voltz... Parada de parada, oras.

- Como assim?

- Acho que tem alguém quase parando por aqui.

- Só não sou eu baixinho. Hum!

- Você deveria ter mais respeito com os caras que guardam as paradas, pois somos nós que decididimos se alguém fica por aqui ou continuará viajando pelos infinitos mundos. E, se você não percebeu, eu tenho uma espada aqui ao meu alcance.

- Grande de coisa... Parece que por aqui todo mundo conhece todo mundo. Como você sabe meu nome, ó nobre guáxa?

- Digamos que esta seja uma das minhas obrigações: saber o nome daqueles que mudarão os mundos para melhor, ou, infelizmente, para pior. E, não me chame de guáxa. Meu nome é Avehós Madariaga, o guardião das paradas.

- Nome bonito guáxa. E eu sou tão importante assim? E, eu não mudo os mundos, pelo contrário, eu os crio.

- Já falei para não me chamar de guáxa. Eu não gosto. A resposta para essas perguntas só quem saberá é você, cara Bulba. Entretanto, há uma pessoa capaz de saber isso: o Senhor dos Campos Argumentais! Apesar de que, quando se encontra com ele é morte na certa. Afinal, os argumentos são as maiores armas que podemos ter diante de um problema, de um inimigo, de uma ideia, de um amor, de uma vida...

- Não procuro por argumentos, procuro por um fusca vermelho, pelo mundo das fadas e, agora, por meu amigo Marmo.

- Marmo já está bem acompanhado, Santiago está com ele. Cuidemos de você agora. Você precisa treinar suas habilidades para criar mundos cada vez mais complexos e mágicos. Venha, sente-se aqui nesse banco paradão.

- Quem é Santiago?

- Santiago del La Rosa Amarela é apenas um grande amigo que está cuidando de Marmo no momento. Assim como ele está cuidando dele, eu estou cuidando de ti. Agora sente-se, por favor.

- Mas agora estou preocupada com Marmo. O que terá acontecido com ele...?

- Eu já lhe disse. Ele está bem acompanhado no momento. Não há com o que se preocupar. Agora, sente-se, pleaseeee?

- Chega! Eu não vou me sentar coisa nenhuma!

- Ou você senta, ou eu vou ser obrigado a usar minha Katana em você. Isso é uma ordem, querida Bulba. Deixe de teimosia, pois o tempo em que Criadores de Mundos mandavam em alguma coisa está acabado.

- Enquanto houver quem sonhe e tenha a capacidade de criar elementos a partir das mais coisas simples, sempre, sempre haverá um criador em pontecial. E isso já basta para que possamos perpetuar nossa raça, espécie, nosso jeito de ser.

- Você é determinada. Lembre-se dessas suas palavras que tudo ficará bem. Porém, sente-se, aqui, no banco de sua parada comigo, para assim, conhecermos um pouco de como o universo ao nosso redor é regido.

- Ok.

- Muito Obrigado. No príncipio existia a luz e como nada pode co-existir sozinho, junto com ela veio a escuridão. Da escuridão...

- Muahahahahaaaaaaaaaaaa... que sono. Não quero aprender nada disso. Quero apenas, no momento, encontrar Marmo e quem sabe voltar para o começo de quando tudo isso começou. Sabe, ele é um cara legal, você adoraria conhecê-lo.

- Bulba, preste atenção... as coisas não são tão simples como se pensa. As paradas são lugares reflexivos em que se não houver atenção total, poderá haver perda de tudo. Basta seguir uma reflexão incorreta que acabamos parando nos maiores abismos da alma. Basta seguirmos as perguntas erradas enquanto estamos sós e poderemos tomar as piores decisões de nossa vida. Cuidado, Criadora, eu como seu pequeno guia, tenho como função alertá-la dos problemas que futuros, cometidos por erros passados.

E foi daí, que comecei a prestar atenção nele. Aquela coisinha baixa realmente estava preocupada comigo. Ele me assegurou que Marmo... enfim, ele está bem acompanhado com esse tal de Rosa Amarela... E eu queria saber porque eu estava viva, mesmo tendo levado um tiro daquela coisa. Pensando bem, eu tinha muitas perguntas para perguntar aquela guáxa.

Porém, como ele havia dito: certas perguntas podem nos levar a caminhos nunca trilhados antes.

- Bem, Bulba, o négocio é o seguinte. Geralmente os guardiões das paradas tem como função tornar a vida de quem passa por aqui bem entediante e bastante infeliz. A espera, os pensamentos, a solidão já deixaram inúmeros transeuntes por aqui bem pertubados por assim dizer. Entrentanto, contigo, minha função não será essa. Minha função agora é te guiar ao mundo das fadas. Lá você aprenderá o sentido de Criar Mundos. Sua proteção será garantida por mim, afinal os Zé Gotinhas Azuis Derrubados ainda estão à sua procura. É minha amiga, os tempos de fuga acabaram, pois estou contigo. E não se preocupe com Marmo, ele tem a aventura dele agora: que é se aventurar na procura por você. Você, também, agora, tem sua aventura: que é fugir de Marmo e, claro, se tornar a melhor Criadora que existiu em todo universo.

- Como assim?!

- É isso que você ouviu. Infelizmente, tem coisas que o universo não explica. E se algum dia ele explicar, talvez não tenhamos capacidade de entender. Por exemplo, o intuito dessas paradas, como eu disse, é fazer todos pararem. Porém, existirão pessoas, você é uma delas, que me farão acreditar que meu intuito era outro qualquer e que, provavelmente, meu verdadeiro objeito era sempre estar esperando por você. Então me pergunto: era pra eu ficar entendiando e aborrencendo quem passasse por aqui enquanto esperava por você, ou simplesmente eu teria que ter feito tudo isso para perceber que você é diferente de todos os outros que passaram por aqui? São questões como essa que torna vida um pouco complicada e ao mesmo tempo admirável de ser vivida. Tudo bem, eu sou apenas um guaxinim falante de posse de uma katana, mas mesmo assim, tudo é tão aplicável.

- Ah, estou acostumada com coisas desse tipo. E fico muito grata de você ter visto algo em mim. Mas será que eu sou tudo isso que você diz que eu sou? Ou você quer que eu seja esse alguém que você está pensando que eu possa ser? Eu só vim aqui em busca de um fusca vermelho e quem sabe de uma conversa curta com alguma fada perdida... As coisas perderam um pouco do rumo que deveriam estar. Para começar não consigo falar mais na segunda pessoa do singular. Depois eu e Marmo se separamos. Depois estou num lugar que só tem uma... uma... uma parada de ônibus no meio do nada? Que coisa louca. Eu sei. Eu gosto de coisas que estão fora do lugar e que são sem sentido. Muitas vezes, são com essas coisas que me sinto sentindo o verdadeiro sentido de uma vida plena. Mas, não é só dessas coisas que quero viver...

- Você é legal, Bulba. Porém, falta muita coisa para sua grande conquista. E é nela que temos que nos focar agora. Cada passo. Passo a passo. Devemos sempre seguir pensando em como Criar os mais fantásticos mundos. Então, como vamos sair daqui?

- Como assim “vamos sair daqui?”. Você que tem a chave para esse problema, afinal esse aqui não é seu departamento. Eu não quero saber de conquistas nem de nada. Quero apenas seguir minha vida conforme minhas escolhas e meus sonhos.

- Esse tempo já passou, meu bem. Eu já lhe disse, oras. Os Criadores não estão bem na fita ultimamente. E quem me colocou aqui disse que você saberia como sair. E disse também, que enquanto isso, eu utilizasse dos meus meios para te encontrar. Aborreci, entendiei, pronto. Fiz tudo que tinha de ser feito. No mais, sou apenas uma agente de uma força maior que está no comando. Digamos que eu sou apenas o seu pequeno manual de instrução. Um manual de instrução valente, guerreiro, e, charmoso, é claro.

- Você só pode está de brincadeira com a minha cara...

- Antes fosse. Digo-lhe o mesmo. Eu Avehós Madariaga, jamais, jamais, brinco em serviço!

- Agora arrumei.

Bem, foi mais ou menos assim que comecei minha aventura em busca dos meus sonhos. Longe de Marmo. Mas eu sei que vou encontrá-lo novamente em algum lugar desse universo maluco que nos meti. É uma pena, mas parece que só somos capazes de crescer longe de quem queremos bem. É uma droga isso. Marmo, onde você estiver... lembra de mim... tá? 

- E... começou a chover...

- Ótimo, começou a chover... só faltava isso nesse lugar... acho que depois de muito tempo... eu agora vou chorar... 

Prentice Geovanni

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